O tempo e as jabuticabas
'Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver
daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquela
menina que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ela
chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados.
Não tolero gabolices. Inquieto-me com invejosos tentando destruir
quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos.
Não participarei de conferências que estabelecem prazos fixos
para reverter a miséria do mundo. Não quero que me convidem
para eventos de um fim de semana com a proposta de abalar o milênio.
Já não tenho tempo para reuniões intermináveis para discutir
estatutos, normas, procedimentos e regimentos internos.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas,
que apesar da idade cronológica, são imaturos.
Não quero ver os ponteiros do relógio avançando em reuniões
de 'confrontação', onde 'tiramos fatos a limpo'.
Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo
majestoso cargo de secretário geral do coral.
Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: 'as pessoas
não debatem conteúdos, apenas os rótulos'.
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a
essência, minha alma tem pressa...
Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente
humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta
com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não
foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados,
e deseja tão somente andar ao lado do que é justo.
Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade, desfrutar desse
amor absolutamente sem fraudes, nunca será perda de tempo.'
O essencial faz a vida valer a pena.
Rubem Alves
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O tempo das jabuticabas me remete a um tempo que não volta mais. As jabuticabeiras pretinhas, pretinhas, e nós lá em cima dos seus últimos galhos querendo pegar as maiores, não nos satisfazíamos com as que estavam ao nosso alcance, aquela mais distante era a melhor.
Época do colegial, dos namoricos à distancia, da troca de olhares, do primeiro amor tão inocente!
Quero, agora, fazer como Rubem Alves, quero encher a bacia de jabuticabas, sentar à sombra de uma centenária árvore, colecionar amigos... gente humana, mas muito humana, contar bastante causos, rir com elas...e depois saborear todas as jabuticabas que chegarem às minhas mãos.
4 comentários:
Que alegria, e quando as tuas acabarem corre cá, tbm tenho um pé delas, e está em flor, ciriguelas e pitangas estão ao nos dispor, e como criança feliz, que ainda não descobriu o amor, sento debaixo delas a sonhar ser um beija-flor, beijos amiga Piedade, passei no meu jardim.
PUXA VIDA QUE TEXTO BACANA!
VOU NESSA COM VC ESTOU SEM TEMPO PARA MEDIOCRIDADE,
QUERO MINHA BACIA DE JABUTICABA DE PREFERÊNCIA A BEIRA DE UM RIO COM AGUA FRESQUINHA E MUITA GENTE BOA PARA DARMOS BOAS RISADAS!
Um texto magnífico que nos ensina o valor da vida; o valor do tempo. Portanta que saibamos degustar com amor e muita sapiência todos os intantes que o pai de todas as dádivas suprema pôs em nossos caminhos, Parabéns poetisa amiga.
Sim Piedade e como tem gente assim é o que não falta, e vou te revelar uma coisa, infelismente, apesar de adorar a cidade onde moro esta cheio de pessoas exatamente como o descrito no texto, como as pessoas são; eles não te veem pela essência mas sim te rotulam, adorei o texto minha amiga, e quero jabuticaba!!!, bjss minha flor fc com Deus!!!
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