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domingo, 27 de fevereiro de 2011

A bravura de uma menina


O filme "Bravura indômita" pode ter sido indicado ao Oscar em dez categorias, mas não me convenceu para tal.

Achei interessante uma menina de 14 anos resolver vingar a morte do seu pai naqueles anos onde não existiam cinemas, tevês, computadores, boates e sei lá mais o quê.

Primeiro, ela cuida do enterro, depois assiste a um enforcamento, negocia a venda dos cavalos como se fosse um adulto, contrata um agente federal mais malvado do que Durango Kid, vivido por Jeff Bridges, muito bom aliás, e vai à luta atrás do bandido assassino.

Parece mentira, mas o que me comoveu mesmo no filme foi a travessia no rio a cavalo, ele, o pretinho, como era chamado pela menina, é que deu um show, até na hora crucial de sua morte.

Vi o filme original, com o John Wayne no papel do agente, na época, tenho certeza de que gostei mais.

Ficou a lembrança dos anos sessenta, dos filmes de western, dos namoricos no cinema tão pueris, das voltinhas na pracinha depois das sessões e os comentários no dia seguinte na escola...

Recordar é viver.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

O vencedor






Vale a pena assistir ao filme O Vencedor, que chega com várias indicações para o Oscar, principalmenta a de ator coadjuvante, muito bem interpretado por Cristian Bale, o filho preferido da mãe, uma velha questão familiar tão bem retratada na história, que desperdiçou sua grande chance de ser campeão por causa das drogas e transfere para o irmão a esperança de uma vitória.
O outro filho, no caso, o vencedor, é o herói que vai superar seus limites: de ser um fracassado, de estar sempre dependendo do irmão e guiado pela mãe que domina todos os negócios da família. Ao conhecer a namoradinha, as coisas começam a mudar na vida desse homem até chegar à vitória. Um grande filme.



quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

uma saída


A Solidão e sua Porta

Quando mais nada resistir que valha
a pena de viver e a dor de amar
E quando nada mais interessar,
(nem o torpor do sono que se espalha).
Quando, pelo desuso da navalha
a barba livremente caminhar
e até Deus em silêncio se afastar
deixando-te sozinho na batalha
a arquitetar na sombra a despedida
do mundo que te foi contraditório,
lembra-te que afinal te resta a vida
com tudo que é insolvente e provisório
e de que ainda tens uma saída:
entrar no acaso e amar o transitório.
Carlos Pena Filho
*****
Há muitas maneiras de amar, quando o amor trouxer dor e solidão.
Ame o que te sorrir na vida...

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

travessia...



Há uma certa hora



Há uma certa hora
em que a casa é um navio
prestes a desatar-se do cais
da noite para o mar do dia.

É que amanhece. E as paredes
e objetos do quarto, os quadros
cadeiras e cortinas (paradas embora)
parecem ondear na enseada da sala.

Os corpos e lençóis se movem
como velas num lento ritual
e as pálpebras e os músculos
retomam a memória
ancorada na véspera.

Há uma certa hora
em que o dia iniciado
ainda não se inaugurou.
Tudo é possibilidade.
As notícias ainda não o mutilaram.
Tudo é um silêncio promissor.

É hora de entre espelhos
cremes e quimeras
escolher a roupa
com que vestir a manhã
hora de recolher o afeto enrodilhado
do cão na cama ou na poltrona
abrir o jornal e ver o sangue
da véspera e a esperança
nas entrelinhas das colunas
que sustentam
as perplexidades
de mais um dia.

Não se foi (ainda) ao escritório
ao mercado ao banco à escola.
O dia é um veículo estacionado
na garagem ou na esquina.
O terrorista não pôs (ainda)
em marcha a sua sanha
o traficante não repassou
a droga, e engatilhada
repousa(ainda)
a bala perdida.
A engrenagem da bolsa
-do pânico à euforia –
(ainda) não nos triturou.

O dia é um alvo
à espera do atirador.
Ainda não se teve
a tonteira o enfarto
o contrato não foi rompido
nada sabemos daquele telefonema
do recém-nascido do atropelado
da mulher que agora beija o marido
mas às quatro da tarde, feliz,
gozará com o amante
em completa doação.

Há uma hora em que o dia
ainda não se inaugurou
-momento absoluto
que antecede tudo.

De repente, a engrenagem
se movimenta o barco
se faz ao mar
desfaz-se a calmaria.

Só há duas alternativas:
- naufrágio ou travessia

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Não há vagas...


O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão.

O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras

– porque o poema, senhores,
está fechado: “não há vagas”
Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço

O poema, senhores,
não fede
nem cheira.

Ferreira Gullar

******

Se o poeta pudesse colocar tudo no poema que está acontecendo nesse país, aí que ia feder mesmo...

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

A graça


A Graça

Desaba uma chuva de pedras, uma enxurrada de estátuas de ídolos caindo, manequins descoloridos, figuras vermelhas se desencarnando dos livros que encerram as ações dos humanos.
E o meu corpo espera sereno o fim deste acontecimento, mas a minha alma se debate porque o tempo rola, rola, rola.
Até que tu, impaciente, rebentas a grade do sacrário; e me estendes os braços: e posso atravessar contigo o mundo em pânico.
E o arco-de-deus se levanta sobre mim, criação transformada.
Adélia Prado

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Eu acredito


O utopista


Ele acredita que o chão é duro
Que todos os homens estão presos
Que há limites para a poesia
Que não há sorrisos nas crianças
Nem amor nas mulheres
Que só de pão vive o homem
Que não há um outro mundo
.

Murilo Mendes
*******
Mas, eu não... e você?

sábado, 19 de fevereiro de 2011

miragem



"Quem procura não acha. É preciso estar distraído e não esperando absolutamente nada. Não há nada a ser esperado."


Caio de Fernando Abreu

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Desgovernado


Para refletir no momento em que a falta de vergonha é exposta publicamente, sem nenhum pudor.

*******

"Dinheiro público é como água benta: todos querem colocar a mão."

provérbio italiano

***

"Todo governo que ousa fazer tudo, acaba fazendo nada."

Winston Churchill

***

"O melhor governo é aquele em que há o menor número de homens inúteis."

Voltaire

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E, para completar o meu pensamento:

"Se tivesse que decidir se devemos ter governo sem imprensa ou imprensa sem governo, eu não vacilaria um instante em preferir o último."

Thomas Jefferson

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

síntese


"Minha ambição é dizer em dez frases

o que outro qualquer diz num livro,

o que outro qualquer

não diz nem num livro inteiro."

Nietzsche

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Ensaios


Deixa eu triturar

essa ira

e jogar no lixo

como num ritual.

Não serve para nada

só para judiar

com meu coração que arde

o peito cansado de suspirar...


Quero sorrir de novo

terminar esse conflito

viver em paz

em tempo integral.


Ensaio de vida

atemporal

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Medite...

Para refletir:

"Quando você vê um caminhão vindo na sua direção, de todas as maneiras pule para bem longe. Mas gaste algum tempo em meditação também. Aprender a encarar o desconforto é a única maneira com a qual você estará pronto para lidar com o caminhão que você não viu."


Henepola Gunaratana

domingo, 13 de fevereiro de 2011

A paz


"A paz jamais virá do equilíbrio de forças. Como profetizava Isaías há séulos, ela resultará, sim, da promoção da justiça, o que supõe desarmamento de espíritos e fim dos arsenais."

Frei Betto

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

O oposto

"O oposto do amor não é o ódio, é a indiferença.
O oposto da beleza não é a feiura, é a indiferença.
O oposto da fé não é a heresia, é a indiferença.
O oposto da vida não é a morte, mas a indiferença entre a vida e a morte."
Elie Wiesel
(sobrevivente do Holocausto e Prêmio Nobel da Paz)

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Que falta?

Epílogos

Que falta nesta cidade?... Verdade.
Que mais por sua desonra?... Honra.
Falta mais que se lhe ponha?... Vergonha.

O demo a viver se exponha,
Por mais que a fama a exalta,
Numa cidade onde falta
Verdade, honra, vergonha.

Quem a pôs neste rocrócio?... Negócio.
Quem causa tal perdição?... Ambição.
E no meio desta loucura?... Usura.

Notável desaventura
De um povo néscio e sandeu,
Que não sabe que perdeu
Negócio, ambição, usura.

Quais são seus doces objetos?... Pretos.
Tem outros bens mais maciços?... Mestiços.
Quais destes lhe são mais gratos?... Mulatos.

Dou ao Demo os insensatos,
Dou ao Demo o povo asnal,
Que estima por cabedal,
Pretos, mestiços, mulatos.

Quem faz os círios mesquinhos?... Meirinhos.
Quem faz as farinhas tardas?... Guardas.
Quem as tem nos aposentos?... Sargentos.

Os círios lá vem aos centos,
E a terra fica esfaimando,
Porque os vão atravessando
Meirinhos, guardas, sargentos.

E que justiça a resguarda?... Bastarda.
É grátis distribuída?... Vendida.
Que tem, que a todos assusta?... Injusta.

Valha-nos Deus, o que custa
O que El-Rei nos dá de graça.
Que anda a Justiça na praça
Bastarda, vendida, injusta.

Que vai pela clerezia?... Simonia.
E pelos membros da Igreja?... Inveja.
Cuidei que mais se lhe punha?... Unha

Sazonada caramunha,
Enfim, que na Santa Sé
O que mais se pratica é
Simonia, inveja e unha.

E nos frades há manqueiras?... Freiras.
Em que ocupam os serões?... Sermões.
Não se ocupam em disputas?... Putas.

Com palavras dissolutas
Me concluo na verdade,
Que as lidas todas de um frade
São freiras, sermões e putas.

O açúcar já acabou?... Baixou.
E o dinheiro se extinguiu?... Subiu.
Logo já convalesceu?... Morreu.

À Bahia aconteceu
O que a um doente acontece:
Cai na cama, e o mal cresce,
Baixou, subiu, morreu.

A Câmara não acode?... Não pode.
Pois não tem todo o poder?... Não quer.
É que o Governo a convence?... Não vence.

Quem haverá que tal pense,
Que uma câmara tão nobre,
Por ver-se mísera e pobre,
Não pode, não quer, não vence.


Gregório de Matos