Seguidores

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Não há vagas...


O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão.

O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras

– porque o poema, senhores,
está fechado: “não há vagas”
Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço

O poema, senhores,
não fede
nem cheira.

Ferreira Gullar

******

Se o poeta pudesse colocar tudo no poema que está acontecendo nesse país, aí que ia feder mesmo...

7 comentários:

ELIANA-Coisas Boas da Vida disse...

NEM ESSE POEMA TÁ MEIO AMARGO GOSTO NÃO!
QUERO VER VC MAIS QUE ESSE POEMA CHATO CHEIO DE AMARGURA!
(desculpe)

Lilá(s) disse...

Mas o poema diz muito amiga.
Beijinhos

chica disse...

Puxa, que forte e verdadeiro poema! beijos,chica

Quintana é para sempre disse...

Olá Piedade,
Que bom te ver lá no Quintana é para sempre..
Ainda bem que o poema do Ferreira Gullar não fede nem cheira.
Bjs.
Estela

Toninho disse...

Terrivelmente belo e feliz o Gullar nesta inspiração de duras verdades,como em uma viagem noite adentro,pelos viadutos e praças da cidade.Muito bom.Abraço Piedade,toda paz nesta reconstrução.

piedadevieira disse...

O que fazer para agradar a gregos e a troianos?
Melhor é ler o poeta e pensar e pensar...

ELIANA-Coisas Boas da Vida disse...

AINDA BEM QUE NEM SOU GREGA NEM TROIANA SOU MINEIRA!KKKKKKKKKKKKKKK