Acabei de assistir ao filme "Preciosa - uma história de esperança". Filme que concorreu ao Oscar em seis indicações, mas ficou apenas com o da atriz coadjuvante, que não era a Preciosa. Vá entender essa Academia!
A história se passou no Harlem, bairro de Manhattan, em Nova York, conhecido pelo alto índice de violência, que tive o privilégio de conhecer de passagem quando lá estive.
A adolescente Claireece Precious Jones é uma jovem de 16 anos, negra, bem avantajada de corpo, boca redonda de lábios bem contornados e carnudos, olhar tristonho e profundo, como se quisesse metralhar alguma coisa. Ao fixar meu olhar no dela, pareceu-me que ela iria reagir brutalmente com um soco ou um palavrão, mas puro engano. Preciosa quase fechou os olhos e muda ficou. Era quase sempre assim que se comportava. A não ser quando alguém ofendia algo precioso seu. Foi o caso do colega que respondeu ao professor que ela amava, e outra colega que zombou dela. Duas bofetadas certeiras calaram a boca maldita dos dois indesejáveis.
Preciosa sofreu as mais absurdas humilhações na sua vida. Foi violentada pelo pai desde os 3 anos de idade, o que lhe deu dois filhos, da sua mãe só ganhou violência, maus tratos e exploração, ganhou dela o medo e aquele corpaço. Como sofria a pobre Claireece! Vale a pena ver esse filme!
Creio que histórias como essa existem aos milhares aqui no Brasil e em todas as partes do mundo. Há poucos dias vimos nos noticiários um homem que mantinha em cativeiro sua filha, juntamente com os filhos que tivera com ela, e não tinham direito de ir à escola, isso lá no primeiro mundo! Aqui, também, no Nordeste e em Minas Gerais ocorreu coisa parecida. Nossa!
É de ficar boquiaberto, em pleno século 21!
De volta ao filme, algo me deixou perplexa e concluí que o que salvou Preciosa das garras da ignorância e do sub-mundo em que vivia foi a escola. Lá ela conheceu o amor , um amor incondicional ao seu professor, com ele sonhava ser uma mulher bonita, elegante. Depois, conheceu o amor fraternal, o amor ao próximo que sua nova professora lhe ofereceu. E, aí então, conheceu o amor materno, que nunca tivera, esse amor que não vê defeitos, que não enxerga empecilhos, que nos faz ir adiante derrubando barreiras, enfrentando os monstros, só para salvar nossos filhos e tê-los conosco.
A escola foi, portanto, a tábua de salvação para ela. Foi lá que Preciosa viu a esperança nascer.
Trabalhei com educação durante 43 anos, aposentei-me e ainda estou esperando por uma história de esperança nos lares da nossa gente sofrida e tão distante dessa nossa pátria gentil.
Investir em educação, como fez a professora de Claireece, é um exemplo para todos, mas não é o que temos visto de fato. Muitas propagandas, muito ilusionismo, mas não existe educação para todos. Chega de mentiras, porque os números estão aí. O analfabetismo ainda é grande e a evasão também. Queremos, sim, uma educação que salva da ignorância, que salva da discriminação, que salva da miséria, que salva vidas perdidas e violentadas, mutiladas de saber.
Quermos uma educação que aponta para além da esperança.
Um comentário:
Queremos sim, e esse nosso querer é mais que urgente, é caso de vidas sem mortes.
Beijo grande!!!
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