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sábado, 15 de agosto de 2009

A MULHER QUE MATOU OS PEIXES APRESENTOU-ME CLARICE.


A primeira vez que li Clarice foi para sempre. Pensei - é a minha favorita. A mulher que matou os peixes era um livro simples e pequeno, dedicado ao universo infantil, mas cheio de sensibilidade e sentimentos, tanto com as pessoas quanto com os animais. Tenho vontade de relê-lo.
Dizem que para ler Clarice é preciso ser Clarice. Mas, digo eu, não temos todos um pouco dela dentro de nós? Trazemos escondidos muitos sentimentos e emoções que não queremos revelar de uma só vez ou de qualquer maneira. Criamos personagens indizíveis, vivemos situações inesperadas, trocamos as tarefas rotineiras por outras que nem conhecemos. Para ela,escrever era encontrar o que havia "atrás de detrás do pensamento"e o que devia mesmo ser dito, o verdadeiro e real não era possível dizer. Como ela diz, ainda, "Tem gente que cose pra fora, eu coso pra dentro". A realidade da vida nem sempre está no exterior, precisamos olhar para dentro de nós mesmos e descobrir o que queremos realmente, quais as nossas verdades que transformamos em pedras e vão alicerçando as paredes que construimos no dia-a-dia.
Ler Clarice é olhar diferente, reconhecer o que se deve dizer, buscar o verdadeiro e o profundo que tecemos no mais profundo do nosso íntimo. Suas palavras, quando analisamos sob esse olhar, se revelam como uma essência simplesmente divinal que nos remetem a um universo infinitamente revelador e que não precisam ser ditas, mas sentidas...absorvidas.
Naquela época, eu não compreendia seu estilo intimista, mas alguma coisa de inexplicável eu li naquela mulher, dona de casa, mãe de filhos, amante de animais, que me transportou para dentro daquela família. É como se eu fizesse parte também daquela história.
A primeira vez que li Clarice... me apaixonei.
São pérolas de Clarice Lispector:
.Beleza não tem idade. A mulher inteligente sabe disso.
.Mulher sem caprichos fica triste.
.Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é possível de ter sentido. Eu não quero a verdade inventada.
.Escrever é tantas vezes lembrar-se do que nunca existiu.
.Será preciso coragem para fazer o que vou fazer:dizer. E me arriscar à enorme surpresa que sentirei com a pobreza da coisa dita.
.Cada vez mais eu escrevo com menos palavras. Meu livro melhor acontecerá quando eu de todo não escrever.
.Se eu me confirmar e me considerar verdadeira, estarei perdida porque não saberei onde engastar meu novo modo de ser - se eu for adiante nas minhas visões fragmentárias, o mundo inteiro terá que se transformar para eu caber nele.
.O que eu era antes não me era bom. Mas era desse não-bom que eu havia organizado o melhor: a esperança.
.Eu não tenho enredo de vida? Sou inopinadamente fragmentária. Sou aos poucos. Minha história é viver.

Um comentário:

Andréa Amaral disse...

Seu texto é uma gostosura.Você também possui a sensibildade do que quer retratar.Falou e sentiu como Clarice.Amei.E nem precisou de muitas palavras....