Seguidores

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Peeling da alma


Disseram-me assim:
"estás envelhecendo."
Olhei minhas mãos
calejadas
enrugadas
que não estão cansadas
para um aperto de mão.
Meus pés
que outrora
corriam ligeiros
levam meus passos agora
lentos na imensidão.
Meus olhos
já turvos
não vejo tão longe
como antes
concordo, tens razão.
Mas ouço bem
quando vens
ao meu encontro
e de braços abertos
te recebo e te abraço
pois precisas de mim.
Que me importa
se o tempo está passando
e me levando
respondo-te assim.
Resta-me ainda
cheia de vida
uma alma linda
separada
que não se prende a nada
não se esconde
nem vive maquiada.
Uma alma que sente
não se ressente
e nunca envelhece
dentro de mim.
Quem precisa
de um peeling na alma
minha amiga,
certamente é você.
(pv)

domingo, 23 de agosto de 2009

Eu fico...tu ficas...nós ficamos...esperando a banda passar.



E a história se repete...
Ouvimos essa frase, há muitos anos atrás, de um príncipe:...diga ao povo que fico. O príncipe ficou, (afinal era para o bem geral e a felicidade da nação) se casou, teve filhos, mas continuou tudo como estava nessa terra de riquezas varonis. A história acabou, quem quiser que conte outra.
Essa frase ecoou, por muito tempo em nossos ouvidos, como um dia de vitória para o povo sofrido, enganado, roubado, explorado, como se fosse a sua tábua de salvação. Será?
Aprendemos que sim, pelas linhas da História contadas para nós nos bancos escolares.Lendo e acreditando nesse dia que ficou, caminhamos com a história esperando por um herói de verdade saído das entranhas do povo brasileiro, moldado com nosso barro pelas mãos calejadas de algum oleiro do norte ou do sul desse país e que nos libertaria desse engano imoral. Engano, sim, pois somos enganados todos os dias. Somos enganados com promessas, palavras e beijinhos antes das eleições. Depois, com atos e atitudes vergonhosas. Somos roubados com taxas e impostos (imposto e desviado, sabe-se lá para onde!). Somos envergonhados com baixarias, corrupções e extorsões e ninguém nada vê e nem sabe. Enfim, estamos vivendo uma decepção só, uma falta de vergonha, de ética e de decência como nunca vistos nessa nação.
Estamos lendo histórias de fada na vida real com castelos exuberantes, bruxos e lobo mau. Os príncipes, quando não são narigudos que nem Pinóquio, não passam de sapos feios que se arrastam pelo paço com os bolsos e as panças cheias.
Enquanto isso, o povo sofrido continua o mesmo: sem educação, sem saúde, sem moradia, sem esperanças. E ainda ouvimos do sapo-mor que nunca na história desse país se viu coisa igual. Assim temos que dizer: Hare baba! Ninguém merece.
Chega de tantas mentiras, chega de tanta hipocrisia! Estamos indignados com tantas indecisões e decisões tomadas na calada da noite, sob os ruídos e chiados de ratos e camundongos, em prol apenas de alguns desses roedores.
Ah! nobre senador, agora vem o senhor com mais essa lorota nos lembrar, outra vez, dessa data! Aliás, essa frase lhe coube muito bem, vale a pena ver de novo, mas assim um pouco ajeitada: para a felicidade geral da banda podre dessa nação, diga ao povo que fico e daqui não sairei nem tão cedo. Muito feio o seu dia do fico! Fala sério, pelo menos uma vez!
Muito triste para nós brasileiros esse dia, porque vamos às urnas acreditando em homens de verdade, não em amebas, anuros ou roedores. Sou mais o chimpanzé Xico da novela.
Como disse o Cazuza: Brasil, mostra a tua cara...

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Com toda lucidez, com certeza

Enquanto você
Se esforça pra ser
Um sujeito normal
E fazer tudo igual...
Eu do meu lado
Aprendendo a ser louco
Maluco total
Na loucura real...
Controlando
A minha maluquez
Misturada
Com minha lucidez..
Vou ficar
Ficar com certeza
Maluco beleza
Eu vou ficar
Ficar com certeza
Maluco beleza...
E esse caminho
Que eu mesmo escolhi
É tão fácil seguir
Por não ter onde ir...
Controlando
A minha maluquez
Misturada
Com minha lucidez
Eeeeeeeeuu!...
Controlando
A minha maluquez
Misturada
Com minha lucidez
Vou ficar
Ficar com certeza
Maluco beleza
Eu vou ficar
Ficar com certeza
Maluco beleza
Eu vou ficar
Ficar com toda certeza
Maluco, maluco beleza...


Minha homenagem singela para esse grande músico, poeta, filósofo que deixou para nós letras e músicas belíssimas para admirarmos e nos alegrarmos, com certeza.: Raul Seixas

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

O teu retrato




Hoje vi teu retrato
(nossa, que gato!)
ali parado
no móvel da sala de jantar
sorrindo para mim.
Ouvi teu chamado
voltei ao passado
e apenas sorri.
Guardo ainda comigo
a tua imagem real
já não eras mais o mesmo
naquele encontro fatal.
Cabelos grisalhos
olhar bem distante
cabisbaixo e sério
andavas ao meu lado
mas não estavas ali.
Palavras não tinhas
apenas mãos frias
distantes, caídas...
Pressenti que era o fim.
Meu Deus, era um adeus
sem gesto, sem nada
nem um riso, um sorriso
nem um grito:
não te amo mais!
Esse novo retrato
(o meu peito rasgado)
sempre o vejo
(que ironia!)
num canto escuro do meu quarto.
Mas por precaução
fecho os olhos de mansinho
para não assustá-lo
(medo de perdê-lo
outra vez)
e, simplesmente com um afago
o apago do meu coração.
(pv)

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

a carta


Recebi sua carta. Ah! que carta aquela! Só de pegá-la minhas mãos tremeram, meu corpo gelou. Que será que você escreveu para mim? Veio-me um pensamento cruel que tirou aquele sorriso sem graça do meu rosto e espantou a paz vestida de esperança que vivia comigo momentos atrás.
Lembrei-me daquele último dia: juntos e abraçados no meio daquela multidão, pois havia uma festa na cidadezinha onde morávamos, trocávamos palavras carinhosas e esperançosas. Naquela tarde, antes de decidir que viria embora, você se aproximou, pegou minha mão e saímos passeando e conversando como velhos namorados. Eram muitos assuntos para colocarmos em dia. A conversa foi longa, os abraços rápidos. O assunto solto, meio que perdido, as mãos apertadas com medo de se perderem outra vez. Sentíamos essa necessidade de ficarmos assim por um bom tempo, um sentindo o calor do outro através das mãos que não se soltavam. Até que chegou a hora de nos despedirmos, mas com a promessa de que nos veríamos brevemente, ou de nos falarmos, certamente através de uma carta.
Oh! Meu Deus, parece que foi ontem! Os bois e cavalos ainda estão ali desfilando para um grande público... o friozinho de junho... aquelas tardes que não terminam enquanto a noite não chega e as empurram para o outro lado do mundo... Está tudo ali, tudinho nos meus pensamentos.
Hoje, todas essas imagens passam rapidamente pela minha memória, porque justamente hoje, mês de junho, acabo de receber o carteiro que vem me entregar várias cartas. Não há entre elas nenhuma sua, claro! Procurei por procurar, hábito antigo...
O carteiro sorriu, me desejou um bom-dia. Agradeci, segurei-as entre as mãos, tentei esconder meus pensamentos.
Guardo novamente, bem no fundo da minha alma, a lembrança daquela carta que me trazia um simples adeus e todos os sonhos que um dia sonhei com você.

sábado, 15 de agosto de 2009

A MULHER QUE MATOU OS PEIXES APRESENTOU-ME CLARICE.


A primeira vez que li Clarice foi para sempre. Pensei - é a minha favorita. A mulher que matou os peixes era um livro simples e pequeno, dedicado ao universo infantil, mas cheio de sensibilidade e sentimentos, tanto com as pessoas quanto com os animais. Tenho vontade de relê-lo.
Dizem que para ler Clarice é preciso ser Clarice. Mas, digo eu, não temos todos um pouco dela dentro de nós? Trazemos escondidos muitos sentimentos e emoções que não queremos revelar de uma só vez ou de qualquer maneira. Criamos personagens indizíveis, vivemos situações inesperadas, trocamos as tarefas rotineiras por outras que nem conhecemos. Para ela,escrever era encontrar o que havia "atrás de detrás do pensamento"e o que devia mesmo ser dito, o verdadeiro e real não era possível dizer. Como ela diz, ainda, "Tem gente que cose pra fora, eu coso pra dentro". A realidade da vida nem sempre está no exterior, precisamos olhar para dentro de nós mesmos e descobrir o que queremos realmente, quais as nossas verdades que transformamos em pedras e vão alicerçando as paredes que construimos no dia-a-dia.
Ler Clarice é olhar diferente, reconhecer o que se deve dizer, buscar o verdadeiro e o profundo que tecemos no mais profundo do nosso íntimo. Suas palavras, quando analisamos sob esse olhar, se revelam como uma essência simplesmente divinal que nos remetem a um universo infinitamente revelador e que não precisam ser ditas, mas sentidas...absorvidas.
Naquela época, eu não compreendia seu estilo intimista, mas alguma coisa de inexplicável eu li naquela mulher, dona de casa, mãe de filhos, amante de animais, que me transportou para dentro daquela família. É como se eu fizesse parte também daquela história.
A primeira vez que li Clarice... me apaixonei.
São pérolas de Clarice Lispector:
.Beleza não tem idade. A mulher inteligente sabe disso.
.Mulher sem caprichos fica triste.
.Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é possível de ter sentido. Eu não quero a verdade inventada.
.Escrever é tantas vezes lembrar-se do que nunca existiu.
.Será preciso coragem para fazer o que vou fazer:dizer. E me arriscar à enorme surpresa que sentirei com a pobreza da coisa dita.
.Cada vez mais eu escrevo com menos palavras. Meu livro melhor acontecerá quando eu de todo não escrever.
.Se eu me confirmar e me considerar verdadeira, estarei perdida porque não saberei onde engastar meu novo modo de ser - se eu for adiante nas minhas visões fragmentárias, o mundo inteiro terá que se transformar para eu caber nele.
.O que eu era antes não me era bom. Mas era desse não-bom que eu havia organizado o melhor: a esperança.
.Eu não tenho enredo de vida? Sou inopinadamente fragmentária. Sou aos poucos. Minha história é viver.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

LIBERDADE, ONDE ANDAS?





















Li nos jornais, há um mês atrás, precisamente no dia 14 de julho, sobre a festa da Bastilha na França. Lembrei-me da famosa frase da revolução:" Igualdade, Liberdade e Fraternidade", não me importa a ordem. O fato é que imagens de reis, rainhas, castelos, casebres, campos e prisões desfilaram na minha mente , mexeram com minhas emoções. Rapidamente apaguei-as. Afinal, já aconteceu há tanto tempo! O que tem a ver com o tempo de agora?
Outra vez, dias depois, uma notícia despertou a história que parecia esquecida no meu arquivo sobrecarregado e cansado. Era o aniversário de 91 anos de Nelson Mandela, símbolo real na luta pela liberdade da África do Sul, o fim do apartheid, que quer dizer vida separada. Ao lutar por essa liberdade, por estranhezas do destino, tornou-se um prisioneiro. A revolução, agora, era de negros que lutavam pelos mesmos direitos de igualdade, liberdade e fraternidade entre os irmãos. Ironias do destino. O herói Mandela, depois de anos na prisão, veio a ser o presidente de todos. Suas palavras são pérolas que cintilam em nossos ideais ainda hoje.
Liberdade, igualdade e fraternidade, três palavras que rimam e se entrelaçam, não consigo vê-las separadas. Não consigo ver um país que não convive com elas. Não consigo viver entre pessoas que não fazem uso delas. No entanto, a liberdade ainda que tardia não está vingando nesse país. A festa da liberdade, o sonho da igualdade não estão acontecendo no meio do povo, nas ruas e nas calçadas.
Novamente, ao abrir os jornais, procuro por notícias dela ou dos homens que dizem, por aí, estão trazendo liberdade para nosso país. O homens que dizem estar preocupados ou ocupados com a justiça, a honra e o progresso. Mas, o que estamos lendo e vendo é o aumento da desigualdade e da pobreza. Cresce o número da criminalidade e da corrupção. As doenças surgem com estalar dos dedos. E eles não estão nem aí para nossa opinião ou nossas súplicas.
Onde está a tão sonhada liberdade de cada brasileiro ver seu país justo e igual na fila de um hospital ou na escola de seu filho?
Onde está a liberdade na hora de prestar contas dos serviços públicos do povo para o povo, e do cumprimento das leis para todos?
Os mesmos sonhos que sonharam os franceses ou os africanos, nós também sonhamos. E cadê?
E para onde foram essa tal de liberdade, de igualdade e fraternidade?... não importa a ordem.