Seguidores

sábado, 16 de junho de 2018

Idade

Como se Morre de Velhice
Cecília Meireles

Como se morre de velhice
ou de acidente ou de doença,
morro, Senhor, de indiferença.

Da indiferença deste mundo
onde o que se sente e se pensa
não tem eco, na ausência imensa.

Na ausência, areia movediça
onde se escreve igual sentença
para o que é vencido e o que vença.

Salva-me, Senhor, do horizonte
sem estímulo ou recompensa
onde o amor equivale à ofensa.

De boca amarga e de alma triste
sinto a minha própria presença
num céu de loucura suspensa.

(Já não se morre de velhice
nem de acidente nem de doença,
mas, Senhor, só de indiferença.)

Cecília Meireles, in 'Poemas (1957)

2 comentários:

Roselia Bezerra disse...

Bom dia, estimada amiga Piedade!
Um belo texto que retrata a indiferença reinante e atual.
Gostei muito de le-lo nesta tarde.
Seja ricamente abençoada!
Bjm fraterno e carinhoso de paz e bem
🤗😗💙

Maré Viva disse...

Gosto muito da Cecília Meireles e não conhecia este poema!
Tal como no século passado, a indiferença reina, nas selvas de pedra.
Beijos.