Como se Morre de Velhice
Cecília Meireles
Como se morre de velhice
ou de acidente ou de doença,
morro, Senhor, de indiferença.
Da indiferença deste mundo
onde o que se sente e se pensa
não tem eco, na ausência imensa.
Na ausência, areia movediça
onde se escreve igual sentença
para o que é vencido e o que vença.
Salva-me, Senhor, do horizonte
sem estímulo ou recompensa
onde o amor equivale à ofensa.
De boca amarga e de alma triste
sinto a minha própria presença
num céu de loucura suspensa.
(Já não se morre de velhice
nem de acidente nem de doença,
mas, Senhor, só de indiferença.)
Cecília Meireles, in 'Poemas (1957)
2 comentários:
Bom dia, estimada amiga Piedade!
Um belo texto que retrata a indiferença reinante e atual.
Gostei muito de le-lo nesta tarde.
Seja ricamente abençoada!
Bjm fraterno e carinhoso de paz e bem
🤗😗💙
Gosto muito da Cecília Meireles e não conhecia este poema!
Tal como no século passado, a indiferença reina, nas selvas de pedra.
Beijos.
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